O conteúdo, veiculado pela imprensa carioca, numa revista de circulação nacional e na internet, e que, em poucos dias, transformou-se em tema principal de centenas de debates virtuais, assusta: “País de mestiços, onde branco não tem força para organizar uma Kux-Klan (sic), é país perdido para altos destinos.(...) Um dia se fará justiça ao Ku-Klux-Klan; tivéssemos aí uma defesa desta ordem, que mantém o negro em seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca – mulatinho fazendo jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destrói a capacidade construtiva” (carta enviada a Arthur Neiva em 10 de Abril de 1928); e isto não é o pior!
Imagine, querido leitor, o tamanho do meu espanto e horror. Sempre defendi Lobato. Suas ideias, inclusive, pareceram-me arejadas, encrenqueiras; sem contar que é responsável pela elaboração/construção daquela que considero uma das personagens femininas mais bem acabadas e representativas da literatura nacional: Emília; diga-se de passagem, uma liderança feminina em tempos de bordado e economia doméstica.
Não perdi tempo. Arranquei Lima Barreto da estante. O escritor carioca, mulato, trocou diversas e pitorescas correspondências com Monteiro entre 1917 e 1922. Lá, não encontrei nenhuma ofensa, mas uma tremenda má vontade nas cartas finais. Descobri que Lima sapecou uma crítica demolidora à publicação “O problema vital”, de Monteiro, prefaciada pelo senhor “eugênico” Kehl. Estariam as palavras (de Lobato) acima direcionadas? Será o escritor carioca, o "mulatinho (que anda) fazendo jogo do galego"? Em tempo: Lima Barreto não conhecia este outro Monteiro, do contrário o teria espinafrado com seus deliciosos artigos avessos a mitificação de “cabeças ocas”. Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Pelas barbas do Visconde!. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 12 de Junho de 2011. Caderno Variedades, p. 03.
Estou deveras surpreso, imaginar Monteiro Lobato adepto da eugenia, para um homem imaginativo e empreendedor de suas intuições, face a obra, como o petróleo brasileiro que ele tanto crera, mas acho que o ouro negro lhe subiu a cabeça. hoje o petróleo se confirma assim como o mulato Machado é negro e ouro.
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ExcluirAcho que Lobato sempre esteve bem a frente de seu tempo. Não obstante, ele também se guiava pelos conhecimentos, pelas informações "científicas" da época. Quando escreveu sobre o Jeca Tatu, ele desceu o pau no pobre caipira. Mais tarde reconheceu que o problema não era o homem, o Jeca, e, sim, o zoológico de vermes que o Jeca tinha dentro de si. E pediu desculpas! Isso se pode ver nas edições posteriores de "Urupês". Se Lobato tivesse vivido mais tempo nada o impediria de reconhecer seus equívocos.
ExcluirCoveite, Gilberto Freyre publicou Casa Grande e Senzala em 1933 e era um entusiasta da "miscigenação" (com olhar de branco colonizador, mas jé é alguma coisa). Monteiro Lobato morreu em 1948 e nunca mudou de ideia em relação à suas ideias racistas. Ele não é uma vítima do tempo; do pensamento reinante. Ele tinha escolha e não pediu desculpas. Também não se engane: que biotipo de criança lia Monteiro Lobato no início do século XX? Ou melhor: qual o biotipo de criança alfabetizada naquela altura? O público alvo de Lobato era bem definido: ele escrevia para crianças brancas. Eu não o isento de culpa.
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