terça-feira, 29 de maio de 2012

Candido, ou o pessimismo


Na última quarta-feira, o ilustre e admirável crítico literário brasileiro Antonio Candido de Mello e Souza (1918) abriu a 9ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) com uma emocionante e bem-humorada conferência informal, onde recompôs, por intermédio de “causos”, as experiências vividas ao lado do poeta modernista brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954), artista brasileiro homenageado pelo evento carioca com as típicas exposições e instalações descarnadas e insossas de sempre – para “inglês ver” (o que presta, querido leitor, indiscutivelmente, é o contato precioso com escritores, consagrados ou não, e amantes da Literatura; tendo como pano de fundo a deslumbrante e opressora arquitetura de uma cidade velha que embala sonhos).
 Também foram ricas as entrevistas cedidas pelo nonagenário crítico da Literatura Brasileira, que afirmou de forma contundente que sua vida intelectual estava completamente encerrada. Sua presença ali era justificada pela grande amizade com o poeta “Oswaldo”, construída, no passado, depois de uma breve e intensa celeuma literária: em 1943, Candido criticara severamente o poeta e este contra-atacou com um artigo violento (“Ele me chamou de mineiro malandro”).
Mesmo se esgueirando, ao admitir que já doou parte de sua biblioteca, que não tem lido nada de novo e que, por isso, não reconhecia os autores atuais brasileiros nem estrangeiros, suas declarações, inesperadamente, desembocaram numa análise desiludida e pessimista da crítica literária brasileira atual e sua iminente apatia: “[A atual crítica então não corre riscos?] Nenhum. A crítica universitária acadêmica é uma atividade extremamente segura, não tem risco. Os rapazes fazem tese sobre Machado de Assis, Jorge Amado, José Lins do Rego, Clarice Lispector. A pessoa pegar o livro e dizer ‘esse é bom, esse é ruim’, isso acabou” -; em suma, um delicado e bem direcionado tapa cujo estalo ressoou pelas tendas estilizadas de uma das grandes feiras dos empreendimentos editorais brasileiros que, a maneira dos críticos hipotéticos de Candido, não correm risco algum, preferindo autores consagrados encalhados a talentosos iniciantes.
Fosse Oswald vivo, convidaria todos os participantes do evento para a FLAP!, espécie de FLIP underground paulistana que está na sua 6ª edição, conta com a participação de mogianos e, sem sombra de dúvidas, tem alma. Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Candido, ou o pessimismo. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 10 de Julho de 2011. Caderno Variedades, p. 03.

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