Na última
quarta-feira, o ilustre e admirável crítico literário brasileiro Antonio
Candido de Mello e Souza (1918) abriu a 9ª Festa Literária Internacional de
Paraty (FLIP) com uma emocionante e bem-humorada conferência informal, onde
recompôs, por intermédio de “causos”, as experiências vividas ao lado do poeta
modernista brasileiro Oswald de Andrade (1890-1954), artista brasileiro
homenageado pelo evento carioca com as típicas exposições e instalações
descarnadas e insossas de sempre – para “inglês ver” (o que presta, querido
leitor, indiscutivelmente, é o contato precioso com escritores, consagrados ou
não, e amantes da Literatura; tendo como pano de fundo a deslumbrante e
opressora arquitetura de uma cidade velha que embala sonhos).
Também foram ricas as entrevistas cedidas pelo
nonagenário crítico da Literatura Brasileira, que afirmou de forma contundente
que sua vida intelectual estava completamente encerrada. Sua presença ali era
justificada pela grande amizade com o poeta “Oswaldo”, construída, no passado,
depois de uma breve e intensa celeuma literária: em 1943, Candido criticara
severamente o poeta e este contra-atacou com um artigo violento (“Ele me chamou
de mineiro malandro”).
Mesmo se
esgueirando, ao admitir que já doou parte de sua biblioteca, que não tem lido
nada de novo e que, por isso, não reconhecia os autores atuais brasileiros nem
estrangeiros, suas declarações, inesperadamente, desembocaram numa análise
desiludida e pessimista da crítica literária brasileira atual e sua iminente
apatia: “[A atual crítica então não corre
riscos?] Nenhum. A crítica universitária acadêmica é uma atividade extremamente
segura, não tem risco. Os rapazes fazem tese sobre Machado de Assis, Jorge
Amado, José Lins do Rego, Clarice Lispector. A pessoa pegar o livro e dizer
‘esse é bom, esse é ruim’, isso acabou” -; em suma, um delicado e bem
direcionado tapa cujo estalo ressoou pelas tendas estilizadas de uma das
grandes feiras dos empreendimentos editorais brasileiros que, a maneira dos críticos
hipotéticos de Candido, não correm risco algum, preferindo autores consagrados
encalhados a talentosos iniciantes.
Fosse Oswald
vivo, convidaria todos os participantes do evento para a FLAP!, espécie de FLIP
underground paulistana que está na
sua 6ª edição, conta com a participação de mogianos e, sem sombra de dúvidas,
tem alma. Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Candido, ou o pessimismo. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 10 de Julho de 2011.
Caderno Variedades, p. 03.
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