terça-feira, 29 de maio de 2012

Da forma


poemeto à clef
            Olha, sob pena de parecer óbvio,
            a poesia não dorme,
            não come,
            não fala...
            A poesia engana e,
            contrariando colares de bola,
            não há Trova que a prenda.
            (Também, soluço nenhum calou meu degredo,
            soluço nenhum clareou o dia,
            ou diminuiu a crise.)
            Lá fora, ainda, as pessoas
            amam e andam via
            BLUETOOTH®,
            BLUETOOTH®,
            BLUETOOTH®…
            (repetir em voz alta, simulando cansado coração de plástico).
           
            - Metonímia, Metonímia,
            dai-me perna enquanto boca.
            A Metáfora é a gota que secou minha lagoa. –

***
Sonegados, propositadamente, as ousadias e méritos da estética “verbivocovisual”, a estrutura do poema obedece a duas linhas distintas de desenvolvimento: a do delambido “poema elaborado”, empanturrado de rigor formal (e são raros os casos em que não passam de grosseiras tentativas), e a do poema solto, detentor de uma composição menos rígida, embalada por uma dicção mais natural, espontânea, caótica (e não direi que o último é Moderno, porque exemplos não faltam, nas Histórias Literárias, de poetas modernistas que liquidariam esta simplificação). Há quem diga que essas linhas de desenvolvimento não passam de duas metades que, unidas, completam a verdadeira expressão poética. Será? Tão antinatural como uma flor “Made in China”, o lirismo tricotado e enfermiço se distancia cada vez mais do real absoluto.
***
Dedico este artigo ao meu pai, Paulo Afonso, pela forma como, sobretudo, ensinou-me o que é ter coração. Parabéns, pai.

MIRANDA, Rafael Puertas de. Da forma. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 14 de Agosto de 2011. Caderno Variedades, p. 03.

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