poemeto à
clef
Olha, sob pena de parecer óbvio,
a poesia não dorme,
não come,
não fala...
A poesia engana e,
contrariando colares de bola,
não há Trova que a prenda.
(Também, soluço nenhum calou meu
degredo,
soluço nenhum clareou o dia,
ou diminuiu a crise.)
Lá fora, ainda, as pessoas
amam e andam via
BLUETOOTH®,
BLUETOOTH®,
BLUETOOTH®…
(repetir em voz alta, simulando
cansado coração de plástico).
- Metonímia, Metonímia,
dai-me perna enquanto boca.
A Metáfora é a gota que secou minha
lagoa. –
***
Sonegados,
propositadamente, as ousadias e méritos da estética “verbivocovisual”, a
estrutura do poema obedece a duas linhas distintas de desenvolvimento: a do
delambido “poema elaborado”, empanturrado de rigor formal (e são raros os casos
em que não passam de grosseiras tentativas), e a do poema solto, detentor de
uma composição menos rígida, embalada por uma dicção mais natural, espontânea,
caótica (e não direi que o último é Moderno, porque exemplos não faltam, nas
Histórias Literárias, de poetas modernistas que liquidariam esta
simplificação). Há quem diga que essas linhas de desenvolvimento não passam de
duas metades que, unidas, completam a verdadeira expressão poética. Será? Tão
antinatural como uma flor “Made in China”,
o lirismo tricotado e enfermiço se distancia cada vez mais do real absoluto.
***
Dedico este
artigo ao meu pai, Paulo Afonso, pela forma como, sobretudo, ensinou-me o que é
ter coração. Parabéns, pai.
MIRANDA, Rafael Puertas de. Da forma. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes,
14 de Agosto de 2011. Caderno Variedades, p. 03.
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