terça-feira, 29 de maio de 2012

A Malha


Imagino, querido leitor, o trabalho árduo daqueles guardiões que zelam pelo preenchimento e arrumação das seções deste estimado jornal, o Mogi News. É que, às vezes, a empolgação me vitima e meus amigos redatores, cirurgiões da boa hora, têm de amputar alguns trechos, extrair algumas concordâncias, poupar algumas vírgulas, descascar o “pastel” a fim de que meu texto sobreviva neste espaço digno que me cabe.
No último, a “Balada da peste branca”, que abordava ligeiramente as sequelas deixadas pela Tuberculose na Arte Literária, tanto nas obras como nas biografias, abduziu-se, além de um “S”, o grande motivo do meu escrito e, por isso, o retomo.
Dizia que “o autor de Pneumotórax (Manuel Bandeira), que enfrentara a morte de perto, viveu mais de oitenta anos” – segue a conclusão – e “a ele, o escritor paraibano José Lins do Rego dedica o belo e melancólico romance: “Pureza” (1937), onde um narrador em primeira pessoa destrincha seus medos, sua trágica história familiar assombrada pela doença e seu exílio compulsório na a erma estação ferroviária que dá nome ao livro. Pelas intensas descrições e para a total compreensão das marcas indeléveis deixadas nas vidas de quem bailou com a peste branca, vale!”.
E vale mesmo! Há tempos, o autor de “Menino de Engenho” (1932) decidiu habitar a minha prateleira e confesso que, meio a contragosto, ruminei seus textos do “Ciclo da cana-de-açúcar”. No início deste mês, no entanto, fui surpreendido por uma belíssima edição de “Pureza” encontrada em um Sebo mogiano: publicada pela José Olympio Editora, em 1961, com fantásticos desenhos de Luís Jardim. Mergulhei na trama e fiquei pasmo. O livro, lançado após a conclusão do “Ciclo” mencionado acima, não carrega os trejeitos sedativos dos romances regionalistas do mesmo autor – a roda a ranger lamuriosamente.
Sem se desprender totalmente dos acontecimentos monótonos que embalam a rotina da estação ferroviária e que reverberam na consciência enfermiça e insegura do personagem central (Lourenço de Melo), José Lins se volta para uma madura narrativa interiorizada e melancólica, em tom de diário íntimo, que fisga o leitor treinado à primeira olhadela. Boa dica de leitura para estas tardes invernais.
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Aproveito este espaço para estimar as melhoras ao amigo Márcio Siqueira, editor-chefe do Grupo Mogi News. Aguardamos seu retorno para que nos relate detalhadamente os desmazelos burocráticos dos quais foi vítima, quando internado. Até breve!

MIRANDA, Rafael Puertas de. A Malha. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 31 de Julho de 2011. Caderno Variedades, p. 03.

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