Imagino, querido
leitor, o trabalho árduo daqueles guardiões que zelam pelo preenchimento e
arrumação das seções deste estimado jornal, o Mogi News. É que, às vezes, a
empolgação me vitima e meus amigos redatores, cirurgiões da boa hora, têm de amputar
alguns trechos, extrair algumas concordâncias, poupar algumas vírgulas,
descascar o “pastel” a fim de que meu texto sobreviva neste espaço digno que me
cabe.
No último, a “Balada da peste branca”, que abordava
ligeiramente as sequelas deixadas pela Tuberculose na Arte Literária, tanto nas
obras como nas biografias, abduziu-se, além de um “S”, o grande motivo do meu
escrito e, por isso, o retomo.
Dizia que “o autor de Pneumotórax (Manuel Bandeira),
que enfrentara a morte de perto, viveu mais de oitenta anos” – segue a
conclusão – e “a ele, o escritor
paraibano José Lins do Rego dedica o belo e melancólico romance: “Pureza”
(1937), onde um narrador em primeira pessoa destrincha seus medos, sua trágica
história familiar assombrada pela doença e seu exílio compulsório na a erma
estação ferroviária que dá nome ao livro. Pelas intensas descrições e para a
total compreensão das marcas indeléveis deixadas nas vidas de quem bailou com a
peste branca, vale!”.
E vale mesmo! Há
tempos, o autor de “Menino de Engenho”
(1932) decidiu habitar a minha prateleira e confesso que, meio a contragosto,
ruminei seus textos do “Ciclo da cana-de-açúcar”. No início deste mês, no
entanto, fui surpreendido por uma belíssima edição de “Pureza” encontrada em um
Sebo mogiano: publicada pela José Olympio Editora, em 1961, com fantásticos
desenhos de Luís Jardim. Mergulhei na trama e fiquei pasmo. O livro, lançado
após a conclusão do “Ciclo” mencionado acima, não carrega os trejeitos
sedativos dos romances regionalistas do mesmo autor – a roda a ranger
lamuriosamente.
Sem se
desprender totalmente dos acontecimentos monótonos que embalam a rotina da
estação ferroviária e que reverberam na consciência enfermiça e insegura do
personagem central (Lourenço de Melo), José Lins se volta para uma madura
narrativa interiorizada e melancólica, em tom de diário íntimo, que fisga o
leitor treinado à primeira olhadela. Boa dica de leitura para estas tardes
invernais.
***
Aproveito este
espaço para estimar as melhoras ao amigo Márcio Siqueira, editor-chefe do Grupo
Mogi News. Aguardamos seu retorno para que nos relate detalhadamente os
desmazelos burocráticos dos quais foi vítima, quando internado. Até breve!
MIRANDA, Rafael Puertas de. A Malha. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 31 de Julho de 2011. Caderno Variedades, p. 03.
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