terça-feira, 30 de outubro de 2012

As crianças de James II


Um ano antes de publicar a novela "A Outra Volta do Parafuso" (1897), Henry James publicara o romance "What Maisie Knew" ("O que Mais e Sabia", que no Brasil encontramos com o título "Pelos Olhos de Maise"), considerado por muitos críticos como um dos mais bem acabados textos do autor. 
As interessantes elaborações cênicas da trama e o bem planejado enredo denotam a incursão do autor na carreira de dramaturgo (James se referia à técnica empregada como o "método cênico", na narrativa). Sem abrir mão da elegância construtiva, procura depurar a expressão a fim de oferecer ao leitor, com o máximo de objetividade, uma singular e inquietante obra. 
Como apresentado anteriormente, em "A Outra Volta do Parafuso" (1898), James submete duas personagens infantis às mais terríveis experiências, despertando no leitor atento, além do sobressalto, uma comoção particular; afinal de contas, são apenas duas criancinhas. 
Já em "Pelos Olhos de Maise", uma pequena menina de seis anos não é poupada das difíceis circunstâncias da vida. A história, ambientada em Londres, começa com a truculenta separação de seus pais vulgares e superficiais, Beale e Ida Farange, que acaba se transformando numa desgastante batalha judicial pela filha. 
Ganha a guarda o pai, mas como este deve dinheiro à ex-esposa, resolve dividir a tutela do "fardo" (é comum a crítica especializada comparar a menina a uma "peteca", jogada de um lado para o outro). 
A jovem, a cada seis meses, convive com as baixarias típicas de cada uma das partes. Acredite, querido leitor, não faço uma leitura moral da situação: os pais é que são criaturas abomináveis. A mãe contrata uma babá jovem e bonita que rapidamente ganha a afetividade de Maise.
Esta babá boazinha, no entanto, muda de lado ao se transformar na nova esposa de seu pai. Neste momento, a mãe descobre um novo amor: um jovem espirituoso que nutre um grande carinho pela pequena. Por fim, a babá madrasta e o jovem padastro se unem numa tórrida paixão, chutam os seus antigos parceiros e decidem fugir e criar a pequena. 
A menina, contudo, abre mão do novo lar para ficar com a babá feia (que ainda não havia entrado neste resumo). Os pais continuam separados e irreparáveis.
A história, que recentemente ganhou uma releitura moderna para o cinema (dirigido por Scott McGehee e David Siegel; exibido em Setembro, no Festival de Toronto), esmiúça os sentimentos e reações interiores de uma criança à mercê dos desatinos daqueles que supostamente a criam. A menina sabe demais. Enfim, já não é mais uma menininha. Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. As crianças de James IIJornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 21 de Outubro de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

2 comentários:

  1. Prezado Rafael, escrevo-lhe por dois motivos, ou melhor, por três: primeiro, porque você curtiu meu comentário ao poeta Frederico Barbosa no facebook; segundo, porque o Puertas de seu nome me fez lembrar meu avô materno, Francisco Puertas, espanhol que veio de Múrcia, da mesma forma que meu trisavô paterno Julião Tristante, e sempre bate aquele saudosismo sanguíneo, que, talvez, seja uma grande besteira, mas é sempre latente; e terceiro, para convidá-lo a visitar meu blog de poesia: www.alaorpoeta.blogspot.com.br. Um grande abraço de seu sempre Alaor Tristante Júnior.

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  2. Professor Rafael, "seu" Antônio Fernando de Souza comparou as minhas longas orações em versos com o afamado escritor James Joice, salvo qualquer possível exagero, e imagino que tenham muitos, gostaria de enviar-lhe meu primeiro texto individual; "Como nascem os meninos masculinos" 35 páginas apenas que se alternam entre lirismo e memórias. Fiquei contente pela breve comparação, e ficaria mais ainda se soubesse que o senhor leu um texto meu. Afinal, não é sempre que temos um professor amigo com nome artístico lendo meu livro. Risos.

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