domingo, 18 de novembro de 2012

Manutenção


Era no tempo da trilha,
quando ainda o manchego heroico
singrava tortuosa fortuna
e a sandice, gasta armadura,
galopava rocinante.
(tanto livro lido!
tanto livro lido!)

Numa curva do incerto caminho,
entretanto,
pai de suposto destino domado,
encontra, a triste figura,
uma quinta;
(es)quina de tempo menino.

Por pouco,
imagem remota o acorda de sonho profundo e,
presto, acha a lança partida
puro brinquedo nulo,
fraco frasco fulo do elixir da vergonha.
(razão voltou, e também quer...)

Então, de um muro dobrado às pressas,
cambaleando a pança que lhe roubara o nome,
surge o maltrapilho escudeiro.
Na ânsia protetora que lhe comove,
desfere derradeiro berro,
insígnia folheada de cavalaria,
veneno som, tara crina,
rasgando a hipnose.

O cavaleiro se volta,
e volta também o absurdo;
apneia cega em oceano turvo.

Então,
ironia ou não,
vai que a loucura,
fruto obtuso de sintonia tão estreita,
fora bem de novo parida pela mão do são,
manutenção.

MIRANDA, Rafael Puertas de. Da loucura (Manutenção)Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 11 de Novembro de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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