domingo, 18 de novembro de 2012

Mestre do mistério


Edmundo Donato (1925-1999), irmão do polêmico escritor Mário Donato (autor do livro “A presença de Anita” - 1948), imortalizou-se com o pseudônimo “Marcos Rey”. Não há leitor juvenil da minha geração que não tenha se divertido com as narrativas de mistério/suspense “O mistério do cinco estrelas” (1981), “Um cadáver ouve rádio” (1983), e outras publicadas pela famigerada “Série Vaga-Lume” (Ed. Ática). 
Depois da sua morte, dando provas de que, em vida, era um verdadeiro mestre do mistério, veio a público seu maior segredo, revelado apenas a um grupo de pessoas mais próximas e ocultado de seus leitores durante toda sua trajetória artística: na infância, em meados da década de 30, manifestou os sintomas da Hanseníase (popularmente conhecida como Lepra) e, adulto, ainda possuía sequelas do mal. 
O pseudônimo, inclusive, fora uma forma eficaz de despistar, no passado, os assustadores agentes do antigo D.L.P. (Departamento de Profilaxia da Lepra), órgão “policialesco” instituído pela secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, que fora responsável por duas internações compulsórias do pequeno Donato. 
Como acontecia comumente nestes casos, fora denunciado anonimamente e, em seguida, perseguido, detido e levado, primeiramente ao Asilo-Colônia (“campo de concentração”) Santo Ângelo, em Mogi das Cruzes; hoje desativado. 
Lá, enfrentou a solidão e as angústias do confinamento, encontrando alívio nas leituras diversas dos livros enviados da capital pelo irmão. Como dominava a língua inglesa, durante a “prisão”, traduziu alguns livros. 
Neste período (1942), publica o seu primeiro Conto: “Ninguém entende Wiu Li”, onde se nota a influência do escritor francês Guy de Maupassant (1850-1893). A breve narrativa é publicada no Suplemento Literário de Domingo da Folha da Manhã, ilustrada por Belmonte, famoso chargista/cartunista da época, e já contém o pseudônimo que lhe traria o reconhecimento. 
Marcos passou sua adolescência em leprosários, até que, em 1945, consegue escapar do sanatório Padre Bento, em Guarulhos (dizem que até 1967, quando foi extinto o DPL, vigorou ordem de captura contra ele). Mais tarde, escreveria romances urbanos – de excelente qualidade e para adultos – e as narrativas policiais infanto-juvenis que o transformariam num sucesso de vendas e presença obrigatória em grande parte das bibliotecas do nosso país. Agora, está solto e assim é melhor. Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Mestre do mistérioJornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 04 de Novembro de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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