Durante uma entrevista concedida a um canal
televisivo italiano (disponível no Youtube com o título: “Qual é o sentido de
escrever?”), o cineasta, roteirista e escritor italiano Pier Paolo Pasolini
(1922-1975) - responsável pela bela e polêmica adaptação/releitura: “Salò ou Os
120 Dias de Sodoma” -, quando perguntado a respeito dos possíveis limites da
atividade literária, declarou que os mesmos têm uma natureza linguística: “(sic) como poeta e escritor italiano sou
muito limitado; preferiria ser um escritor em língua suaíli, que é a 12ª língua do mundo”. Ou seja, depois de Dante,
Petrarca e alguns outros nomes de peso, não há nada que se possa fazer com a
língua italiana que possua o frescor da originalidade, da inovação.
Há quem diga que com a Língua Portuguesa não acontece
de outra forma. No entanto, contrariando estas próprias determinações,
surpreendemo-nos ainda com o gênio e a energia de artistas contemporâneos,
criadores de novas “formas de escrever”; novas formas de aproveitar esta
sublime matéria-prima (a palavra em língua portuguesa) que já “apanhou” tanto e
arrancar dela novos estilos, fazendo-a renascer a cada instante.
Exemplo palpável deste fenômeno é o saudoso poeta
curitibano Paulo Leminski (1944-1989), que acaba de ganhar uma belíssima edição
póstuma: “Toda Poesia” (Ed. Companhia das Letras, 2013). A antologia, apanhado
dos principais títulos do autor dedicados à poesia, realoca o Leminski em
nossas prateleiras, resgatando uma inventiva e despojada verve poética
(“sejamos pelo novo, não pelo belo”), fruto de uma espécie de “deglutição do
pau-brasil oswaldiano”, como diria o também saudoso poeta e professor Haroldo
de Campos, e que oscilava entre o popular e o erudito (“geração mimeógrafo” –
“poesia concreta”), sem se entregar às pieguices típicas dos poetas-escoteiros
orfeônicos e seus sonetos entediantes. Também não escapa à obra mencionada as
composições/letras que produziu para figuras emblemáticas da Música Popular
Brasileira.
Enfim, um excelente panorama da poesia deste
verdadeiro judoca das palavras, mas não completo. Já circulam pela internet
poemas de sua autoria que não foram incluídos na coletânea. Num deles, divulgado
por sua viúva, a também poetisa Alice Ruiz (que já ministrou uma fantástica
palestra em Mogi das Cruzes, esmiuçando o fazer poético), o polaco-paranaense
escreve:
“(...)Chega. Tudo chega. Chega o auge.
O que eu sou me chega”.
(Auge, in: Jornal Correio de Notícias)
Evoé, Leminski. Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Beatnik Caboclo, ou o Samurai Malandro, ou o Caipira Cabotino. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 10 de Março de 2013. Caderno Variedades, p. 02.
“(...)Chega. Tudo chega. Chega o auge.
O que eu sou me chega”.
(Auge, in: Jornal Correio de Notícias)
Evoé, Leminski. Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Beatnik Caboclo, ou o Samurai Malandro, ou o Caipira Cabotino. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 10 de Março de 2013. Caderno Variedades, p. 02.
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