terça-feira, 23 de abril de 2024

Tese PUERTAS, sobre o enredo do romance Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis.

 
Advertência:
Esta "Tese", organizada pelo professor mogiano Rafael Puertas de Miranda, pode ser utilizada em julgamentos escolares da obra "Dom Casmurro" (1899), de Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) pelo grupo de acusação, além orientar a leitura de curiosos e estudiosos, enfastiados com a interpretação antiga e distraída de Helen Caldwell e com os argumentos tontos do John Gledson, que não entende de biologia humana. Até agora, esta parafernalha divertida mostrou-se muito útil. Boa leitura!

Dedicatória:
Tese dedicada à Otto Lara Resende (in memoriam) e à Dalton Trevisan.

1º Argumento - Em sua vasta galeria literária, Machado de Assis tratou do tema da traição e da esterilidade sob vários prismas.
2º Argumento - Quando terminou de publicar o romance Quincas Borba (1891), seus leitores exigiam avidamente um romance solo da personagem Sofia. Queriam muito que ela traísse seu marido paspalhão e interesseiro. Era um casal estéril, os "Palha". O romance Dom Casmurro (1899) foi a forma encontrada pelo escritor para satisfazer o seu público leitor. Ele dependia das vendas de seus livros.
3º Argumento - O romance Dom Casmurro foi recepcionado pela crítica e divulgado em propagandas como um "romance de traição". Ninguém dizia o contrário. Também, Machado de Assis nunca questionou publicamente essa classificação. A obra O Primo Basílio (1878), de Eça de Queiroz, havia escandalizado a sensibilidade de Machado com suas baixezas: haveria a possibilidade da escrita de um romance de traição, que não fosse tão decrépito?
4º Argumento - Bentinho era rico e tonto. Capitu uma alpinista social. Escobar um interesseiro ("...olhe, dê-me o número das casas de sua mãe e os alugueis de cada uma, e se eu não disser a soma total em dois, em um minuto, enforque-me!" - Capítulo XCIV- Sei!).
5º Argumento - Capitu e Bentinho estão casados há DOIS ANOS e não têm filhos. Um casal saudável demora entre dois meses e um ano para gerar uma criança (Leia mais sobre isso aqui!). Essa chave aparece no capítulo As Pirâmides - CIV (o capítulo onde o "triângulo" se consuma). É um Argumento Biológico incontornável.

"Tudo corria bem. Ao fim de dous anos de casado, salvo o desgosto grande de não ter um filho, tudo corria bem." - Dom Casmurro (1899).

- nada corria bem!

6º Argumento - A genética é irrevogável: a família Santiago tem problemas com a reprodução humana, haja vista que o primeiro filho de Dona Glória, mãe de Bento, nasceu morto. (Ver promesssa de D. Glória, se o segundo filho vingar - "Tendo-lhe nascido morto o primeiro filho, minha mãe pegou-se com Deus para que o segundo vingasse, prometendo, se fosse varão, metê-lo na Igreja." - Capítulo XI).
7º Argumento - Capitu precisa dar um filho a Bentinho. A pressão aumenta. Bentinho vive resmungando.
8º Argumento - Magicamente, ela aparece grávida. Nasce Ezequiel.
9º Argumento - Bentinho descobre Capitu tentando pagar Escobar, às escondidas (é o pagamento da inseminação: "Dez Libras"). Capitu dissimula, dizendo que são investimentos. Escobar, o "corretor", quase desmaia, quando Bento menciona o assunto.
10º Argumento - Num passeio, Ezequiel Escobar (sim, você leu direito: "Escobar" é um sobrenome. O filho de Bentinho recebeu na pia batismal o nome do amigo: "Ezequiel") pergunta para Bentinho se não seria positivo se a filha dele com Sancha e o filho do amigo se casassem, no futuro. Sonda a reação do amigo. Bentinho ainda não desconfia e sela o "pacto" com um aperto de mão.
11º Argumento - Ezequiel cresce e é a cara de Ezequiel Escobar.
12º Argumento - Na despedida de um encontro de casais, Sancha aperta a mão de Bentinho para contar alguma coisa, mas desiste. O tonto narrador acha que ela teria sentido alguma coisa por ele.
13º Argumento - Dona Glória, que sempre gostou de crianças, não dá muita atenção ao pequeno Ezequiel. Ela já entendeu tudo: "DOIS ANOS"! Bentinho percebe:
"Palavra puxa palavra, falei outras dúvidas. Eu era então um poço delas; coaxavam dentro de mim, como verdadeiras rãs, a ponto de me tirarem o sono algumas vezes. Disse-lhe que começava a achar minha mãe um tanto fria e arredia com ela. Pois aqui mesmo valeu a arte fina de Capitu!
— Já disse a você o que é; coisas de sogra. Mamãezinha tem ciúmes de você; logo que eles passem e as saudades aumentem, ela torna a ser o que era. Em lhe faltando o neto...
— Mas eu tenho notado que já é fria também com Ezequiel. Quando ele vai comigo, mamãe não lhe faz as mesmas graças."
(Capítulo CXV)
José Dias, o agregado de Dona Glória, chama o pequeno de "O filho do Homem!". Rá!
14º Argumento - Escobar morre, ou tira a própria vida, porque Capitu não queria nada dele, exceto um filho. Ela chora em seu enterro. Começa a desconfiança de Bentinho. Capitu e Ezequiel viram alvo.
15º Argumento - Bentinho decide enviar os dois para Europa e Capitu não se opõe. Melhor que o filho esteja bem longe: e se ele tiver alguma coisa com a filha da Sancha, que é sua irmã? Exílio provocado pelo terror da revelação escandalosa de um provável incesto: a obra Casa Velha (1866), de autoria do Bruxo do Cosme Velho, ajuda a entender o procedimento.
16º Argumento - Ezequiel retorna depois da morte de Capitu para reencontrar Bentinho. É o próprio Escobar, de tão parecido. Diz que a mãe sempre dizia que Bentinho era o "mais puro do mundo". Faz sentido, pois o mesmo não pode gerar um filho.
17º Argumento - Bentinho, ao ler a frase do epitáfio do filho, chega a conclusão de que nunca esteve no momento de sua concepção. Não tenho dúvidas disso.
18º Argumento - Machado de Assis entendia muito bem de esterilidade: não teve filhos, não transmitiu "a nenhuma criatura o legado de nossa miséria". Pelo menos, não dentro de seu casamento; mas essa é outra história.

FIM

18 de Abril de 2024.

Prof. Rafael Puertas de Miranda
(Mogi das Cruzes - SP).
prof_rafaelpuertas@yahoo.com.br

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Atualizado em 08/06/2024.

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