quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Das possibilidades

Mário Cochrane de Alencar (1872-1925) e Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908).

          No interessante trabalho: “Realidade Possível: dilemas da ficção em Henry James e Machado de Assis” (Vol. 41 da Coleção “Estudos Literários” - Ateliê Editorial, 2012), o crítico e professor Marcelo Pen Parreira, ao analisar os pontos de convergência entre o autor norte-americano e o brasileiro com enorme clareza e amplo repertório (dignos de um eficiente “comparatista”), destaca a carência de provas que ajudem a dimensionar com exatidão a ligação, ou o tipo de influência que o autor americano tenha exercido sobre o autor brasileiro.
          Aparentemente, Machado não leu as obras de seu contemporâneo, não as possuía em sua vasta biblioteca e não as teria comentado em seus artigos, cadernos, anotações esparsas e escritos íntimos. Também restam dúvidas quanto ao domínio da língua inglesa. Mesmo traduzindo canhestramente o poema “O Corvo” (de Poe) e até mesmo Oliver Twist (de Dickens), há indícios de que tenha se valido, na verdade, de edições francesas das referidas obras (Machado dominava a língua francesa). Segundo Marcelo Pen: “O certo é que James nunca leu Machado, e é provável que o segundo também não tenha tido grande (ou nenhum) conhecimento do primeiro”.
          Pairando sobre o campo das possibilidades, o jornalista e escritor carioca Carlos Heitor Cony (1926-), no ano de 1999, passou a divulgar suas conjecturas a respeito de um intrigante episódio da biografia machadiana. Ao vasculhar o polêmico “Diário Secreto”, do escritor Humberto de Campos (1886-1934), publicado com estardalhaço na revista O Cruzeiro; localizou, num trecho de uma das impressões pessoais do autor maranhense, insinuações de que Machado de Assis seria o pai biológico do também escritor Mário de Alencar, supostamente filho do escritor romântico José de Alencar.
          Mário, filho de Georgina Augusta Cochrane (“filha de um aristocrata britânico excêntrico”), possuía alguns traços fisionômicos de Machado, amigo da família, além de manifestar a mesma enfermidade que debilitava o autor realista: a epilepsia. No final da vida, o bruxo do Cosme Velho o transformou em amigo íntimo, recomendando-o, inclusive, à ABL, onde o rapaz foi agraciado com o título de imortal, tendo apenas publicado um livro (Mário sendo acolhido à casa do pai, ao menos, simbolicamente-?). Também, o romance "Dom Casmurro" (1899) seria uma espécie de espiação: a traidora Capitu seria o alter ego de Machado.
          Dando razão a Cony, resta saber o quanto da cultura inglesa Machado levou consigo destes encontros clandestinos com a mulher de Alencar.
MIRANDA, Rafael Puertas de. Das possibilidades. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 22 de Setembro de 2013. Caderno Variedades, p. 07.


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