Ainda nesta
semana, entre os trancos e barrancos de uma vida atarefada, chegou aos meus
olhos a edição de novembro da revista Actual Magazine (nº 15), distribuída
gratuitamente nos municípios da região. Para minha profunda surpresa e decepção,
a referida publicação trazia, no seu típico miolo desmiolado, um texto intitulado
“Desespero”, escrito pelo colunista social Anderson Magalhães, singelo arroz de
festa da noite mogiana.
Valendo-se de
um discurso asqueroso, rancoroso e esvaziado de bom senso, Magalhães propõe uma
sistemática campanha para evitar que o “povão” vote no segundo turno, o que,
segundo ele, resultaria na derrota do grupo político que administra o governo
federal; a famigerada “situação”.
Sua ampla concepção
de “povão” (leia-se: pobres, imbecis e desclassificados) abrange, de maneira
tocante e arbitrária, traficantes, empregadas domésticas, entusiastas do “forró”,
porteiros, passageiros de trens e de ônibus, expectadores da TV aberta,
analfabetos e, principalmente, Nordestinos.
Segundo o
articulista pouco articulado, caso estes indivíduos sejam boicotados,
trancafiados, interditados, desintegrados, sequestrados (e etc.); na hora do
pleito, o resultado da eleição será (ou seria) outro. Afinal de contas, para
que existe a democracia, não é mesmo? Que não saiam da senzala!
Enfim, o fim!
Pouco tempo
depois da publicação do texto, Magalhães postou uma breve retratação nas redes
sociais, afirmando que fora “mal interpretado” e que sua intenção era apenas a
de ser “irônico”. Sua suposta “intenção”, no entanto, não o absolve de suas
injúrias e a revista (o contexto da publicação) amplifica a sua brutalidade:
não há foto de “povão, segundo Magalhães”, naquelas bandas.
Como sujeito
ordinário que sou, usuário de transporte público metropolitano e leitor assíduo
de Lima Barreto, Machado de Assis, Fernando Pessoa e Fiódor Dostoiévski, espero
que o meu direito de votar não seja usurpado. Nossa democracia é anêmica e,
definitivamente, não pode ser alvo de ignorâncias rasteiras dessa natureza.
Também o arroz
é vítima de seu próprio veneno. Ao anunciar o eleitor ideal, vocifera: “e, para
ter seu voto validado, todos terão de formular uma frase inteira sem erros de
concordância e com todos os plurais”; mas, contrariando-se, no início do texto,
escorrega feio: “faça com que Dilma e sua corja perca seus votos”! Que é isso, rapaz? Ou vai me dizer que
forçou uma "concordância ideológica"? Olha, nesse caso, não há salvação! (Risos).