quarta-feira, 6 de junho de 2012

Nhô Bento

Fac-símile do Frontispício da primeira Edição de "Rosário de Capiá"(1946), de Nhô Bento.
Em 1946, o poeta José Bento de Oliveira (21 de Março de 1902 - 12 de Janeiro 1968) – nascido na cidade litorânea de São Sebastião(SP) – lançava aquele que viria a ser o seu primeiro e último livro de poemas, intitulado “Rosário de Capiá”(F. Lanzara), espécie de antologia de 58 poemas de sua autoria. Nesta obra raríssima (sem reedições), embora dedique um texto aos conterrâneos praianos, José, que se mudara para São Paulo na juventude e apresentava-se artisticamente contando “causos” e declamando versos como o impagável “Nhô Bento” (ganhara, inclusive, um programa na rádio Gazeta, em São Paulo, onde divulgava os seus trabalhos – o áudio de alguns deles podem ser encontrados no Youtube), afasta-se da tradição caiçara ao empregar uma bem elaborada e caricatural linguagem, a fim de retratar os costumes e tradições do homem do interior. Um verdadeiro marco da cultura caipira.
O poeta convocou para ilustrar a edição uma verdadeira “liga extraordinária” de artistas da época: Belmonte, A. Esteves, Bilú, Amaro e Nino Borges; o que resulta na alta valoração da edição completa em nossos dias.
Vinil que contém faixas com declamações de Nhô Bento.
(Catullo da Paixão Cearense, por Lima Duarte, e Nhô Bento declamando poemas de sua autoria. RGE discos do Brasil, Mono, Encarte, 1989, Reedição - Lançado primeiramente na década de 60.)
Sua poesia, essencialmente simples, tem o gosto da vida cabocla. Interessante é que, no mesmo ano, o escritor mineiro Guimarães Rosa, apropriando-se também dos falares populares e regionais, lançava seu primeiro livro de contos, “Sagarana”. Mas, se naquele sobra pesquisa respeitosa (com direito a vocabulário nas últimas páginas) e inocência, no Rosa transborda a experimentação, a estilização, a temática universalizante. Sobretudo, obras “primas”.
Entretanto, o elemento mais curioso da brochura do “caiçara-poeta-caipira” é o prefácio entusiasmado: “Nhô Bento levanta-se e limpa o pigarro – e eu suspiro por dentro, preparando-me para a seca. Esse tais recitativos de encomenda são em geral uma estopada que a gente tem que engolir de cara amável, com palminhas no fim e pedidos hipócritas de ‘Recite outra...’ Mas a minha surpresa foi grande. O homem pôs-se a dizer, com uma expressão, uma verdade e uma propriedade inexcedíveis, os melhores poemas caipiras que ainda ouvi – ricos de imagens novas, de modismos, de mil particularidades que no momento eu não podia analisar mas me enlevaram, como igualmente enlevaram a todos os presentes”, escrito – veja só – pelo próprio pai do “Jeca Tatu”, o senhor Monteiro Lobato. Ainda, antes de encerrar a análise do estilo de Nhô Bento, Lobato aproveita para dar mais uma alfinetada nos poemas dos “letrudos”, classificando-os como “intelectualismo versificado” vazio de poesia. Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Nhô Bento. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 11 de Dezembro de 2011 e republicado em 08 de Janeiro de 2012. Caderno Variedades, p. 03.

Nhô Bento no Youtube (Vídeos Sugeridos):

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