segunda-feira, 25 de junho de 2012

Do Futebol


Em 1919, a imprensa carioca fervilhava com a publicação de uma série de artigos demolidores escritos pelo saudoso literato e anarquista Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922). Os textos eram parte de uma campanha promovida por renomados intelectuais para conter a disseminação de um esporte, espécie de “germe nocivo”, que ia se transformando, aos poucos, numa mania nacional: o “Football”, ou, como era chamado, “o nobre esporte bretão”.
Liderados por Barreto, a “Liga contra o Football”, como se autoproclamavam, não conseguiu construir uma sede por “questões financeiras”, mas acabou contraindo inimigos à altura: Coelho Neto, sócio/torcedor do Fluminense Futebol Clube, fora talvez o adversário mais ferrenho no campo dos argumentos (contrapropaganda), sagrando-se por intermédio de discursos e entrevistas onde apelava até para as tradições Greco-romanas, com o intuito de anular as investidas da horda dos contrários. O articulista Ricardo Pinto, também oposto às ideias da “Liga”, publicou um artigo ácido, desqualificando o interesse de Lima, afirmando que este não entendia nada de futebol e denominando-o, sarcasticamente, como o Brás Cubas mentor deste movimento tresloucado. Barreto não gostou nada disto.
A “Liga” foi para escanteio, mas, curiosamente, a aversão ao futebol rolou pelos séculos. Há, inclusive, o discurso “demonizador” que desnuda o poder hipnótico deste perigoso “ópio das multidões”.
Em 2008, driblando questões políticas, sociais, econômicas e comportamentais que sempre são priorizadas nas investigações deste esporte, o professor José Miguel Wisnik lançou seu ensaio “Veneno Remédio”. Na obra, bibliografia obrigatória para os amantes do Futebol, Wisnik enfatiza as características encantatórias do “jogo em si”, esporte introduzido e praticamente reinventado em nosso país; esmiúça o caráter aparentemente paradoxal desta modalidade e a apresenta como uma “cifrada atividade criativa” (de construção do imaginário), que não pode simplesmente ser sonegada, pois diz muito a respeito de nossa identidade e formação. Vale!
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No último domingo, entre os torcedores de meu time, o Santos Futebol Clube, nas arquibancadas do Morumbi, fui testemunha ocular da atuação de uma equipe que “gosta” de Futebol. Neymar, mogiano que já começou driblando terríveis índices de mortalidade infantil, merece uma estátua na frente da prefeitura. Com bola e tudo!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Do Futebol. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 20 de Maio de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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