Em 1919, a
imprensa carioca fervilhava com a publicação de uma série de artigos
demolidores escritos pelo saudoso literato e anarquista Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922). Os textos
eram parte de uma campanha promovida por renomados intelectuais para conter a disseminação
de um esporte, espécie de “germe nocivo”, que ia se transformando, aos poucos,
numa mania nacional: o “Football”,
ou, como era chamado, “o nobre esporte bretão”.
Liderados por
Barreto, a “Liga contra o Football”, como
se autoproclamavam, não conseguiu construir uma sede por “questões
financeiras”, mas acabou contraindo inimigos à altura: Coelho Neto, sócio/torcedor
do Fluminense Futebol Clube, fora talvez o adversário mais ferrenho no campo
dos argumentos (contrapropaganda), sagrando-se por intermédio de discursos e
entrevistas onde apelava até para as tradições Greco-romanas, com o intuito de
anular as investidas da horda dos contrários. O articulista Ricardo Pinto,
também oposto às ideias da “Liga”, publicou um artigo ácido, desqualificando o
interesse de Lima, afirmando que este não entendia nada de futebol e
denominando-o, sarcasticamente, como o Brás
Cubas mentor deste movimento tresloucado. Barreto não gostou nada disto.
A “Liga” foi
para escanteio, mas, curiosamente, a aversão ao futebol rolou pelos séculos. Há,
inclusive, o discurso “demonizador” que desnuda o poder hipnótico deste
perigoso “ópio das multidões”.
Em 2008,
driblando questões políticas, sociais, econômicas e comportamentais que sempre
são priorizadas nas investigações deste esporte, o professor José Miguel Wisnik
lançou seu ensaio “Veneno Remédio”. Na obra, bibliografia obrigatória para os
amantes do Futebol, Wisnik enfatiza as características encantatórias do “jogo
em si”, esporte introduzido e praticamente reinventado em nosso país; esmiúça o
caráter aparentemente paradoxal desta modalidade e a apresenta como uma “cifrada
atividade criativa” (de construção do imaginário), que não pode simplesmente
ser sonegada, pois diz muito a respeito de nossa identidade e formação. Vale!
***
No último
domingo, entre os torcedores de meu time, o Santos
Futebol Clube, nas arquibancadas do Morumbi, fui testemunha ocular da atuação
de uma equipe que “gosta” de Futebol. Neymar, mogiano que já começou driblando
terríveis índices de mortalidade infantil, merece uma estátua na frente da
prefeitura. Com bola e tudo!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Do Futebol. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 20 de Maio de 2012.
Caderno Variedades, p. 07.
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