Certa vez, um pianista decidiu visitar a exposição de uma tradicional empresa fabricante de pianos a fim de adquirir um novo instrumento para ser utilizado no seu próximo espetáculo. Chegando à loja, declarou suas intenções e começou a ser apresentado a cada uma das peças à disposição.
Como executaria músicas de um compositor célebre (um clássico), decidira experimentar piano por piano até que achasse o instrumento que lhe propiciasse a sonoridade e harmonia adequadas, capazes de satisfazer plenamente as expectativas de sua seleta platéia, formada por especialistas, músicos e amantes do determinado compositor, ou seja, sujeitos dotados de específicas competências receptivas, desenvolvidas graças ao contato frequente com outras obras previstas numa espécie de “cânone musical” (a educação da sensibilidade).
Como executaria músicas de um compositor célebre (um clássico), decidira experimentar piano por piano até que achasse o instrumento que lhe propiciasse a sonoridade e harmonia adequadas, capazes de satisfazer plenamente as expectativas de sua seleta platéia, formada por especialistas, músicos e amantes do determinado compositor, ou seja, sujeitos dotados de específicas competências receptivas, desenvolvidas graças ao contato frequente com outras obras previstas numa espécie de “cânone musical” (a educação da sensibilidade).
O músico analisou cada um dos pianos e não ficou satisfeito. Nenhum deles teria as características acústicas necessárias para reproduzir as nuances das músicas que executaria; de forma alguma contemplaria plenamente as características estéticas intrínsecas da obra.
Já se despedia do vendedor, quando, inesperadamente, um piano chega na sala. Segundo os carregadores, a peça fora devolvida pelo comprador original. O músico decidiu experimentá-la. Ficou pasmo quando notou que aquele piano era, sem sombras de dúvidas, o instrumento adequado ao seu intento; aquele que procurava. Um “encontro” inesperado.
Esta narrativa medíocre, querido leitor, pode gerar diversas reflexões importantes acerca da arte musical. Questionamentos que nos ajudam a compreender a natureza da Arte. Transpondo-os para o plano da Literatura, podemos destacar o fato de que a obra literária, como a obra de um compositor famoso, é sempre um artefato, um objeto que se separa de seu criador, possuindo, assim, uma materialidade sem a qual não seria possível a obtenção de um juízo estético.
Esta constatação, obviamente, destaca as características internas da obra literária e deve ser compreendida como um dos pressupostos fundamentais do ensino da Literatura que deve, sobretudo, alimentar a “competência receptiva” (ou espécie de cogniscência) dos leitores em formação para que os mesmos sejam capazes de perceber que o código da língua portuguesa interage com outros códigos (métricos, estilísticos, retóricos, estéticos, ideológicos) na estruturação do texto literário. Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. A defesa da Estética. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 30 de Outubro de 2011 e republicado em 22 de Julho de 2012 . Caderno Variedades, p. 03.
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