quarta-feira, 20 de junho de 2012

Mário!? Que Mário?

Mário Raul, que, há exatos 67 anos e um dia, falecia em sua querida cidade natal, São Paulo. Bacharel em Ciências e Letras, em 1909. Que, em 1910, abandonou o insosso curso da Escola de Comércio Álvares Penteado porque se enfurecera com um tradicional e sonífero professor de Língua Portuguesa.
Formado em Piano pelo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Crítico das Artes. Poeta radical, introdutor dos versos livres por estas bandas. Consagrado como um dos mentores da Semana de Arte Moderna (1922). Grande romancista e contista, que flertava com a recém-digerida psicanálise freudiana.
Autor de uma das mais belas obras da Literatura nacional: Macunaíma (1928), rapsódia metida a romance, escrita em seis dias numa “chacra” em Araraquara, que fixa as aventuras e peraltices de “sarapantar” do personagem homônimo, um índio feio e preguiçoso, “sem nenhum caráter”: porque um anti-herói e também porque, na “trama-conversa-fiada-por-papagaio”, desfila alegoricamente com as características biotípicas das três etnias fundadoras da nossa cultura: o índio, o negro e o branco.
O livro funde e funda ditados populares, lendas, superstições, ritos; um verdadeiro almanaque da cultura popular. Macunaíma é o próprio Brasil carnavalizado, autorizado pelo canto paralelo da paródia, um protesto (em tempo: o Carnaval como forma permitida pela sociedade para contestar a si mesma se enfraqueceu, infelizmente: como gostaria de ver o Bloco do Santo Antônio Preso na Ponte Grande, o Bloco do Eu não tenho Ficha Limpa, o Bloco do 62%, etc).
Mas, então, o Mário! Uma das grandes referências na pesquisa do Folclore Brasileiro, antropólogo, entusiasta sincero da brasilidade. Que defendia o “Boi” como elemento unificador da cultura do povo, que investigava as “Músicas de Feitiçaria” brasileiras, os motes, os arquétipos literários, como “O sequestro da Dona ausente”, que para ele era a senhora do sentimento amoroso na criação popular e também mulher inacessível incorporada pelos poetas do ultrarromantismo.
O Mário que providenciara uma expedição que percorreu o Brasil de ponta a ponta, registrando músicas, ritos e manifestações folclóricas (o resultado desta empreita é apresentado em uma exposição fixa e gratuita do Centro Cultural São Paulo). Este é o Mário de Andrade e ele está por aí, em alguma grota, rindo muito bem de um Brasil que teima em não se entender. Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Mário!? Que Mário?. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 26 de Fevereiro de 2012. Caderno Variedades, p. 03.

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