quarta-feira, 20 de junho de 2012

Casa e Universo

Dedico este artigo ao competente agente cultural Frederico Barbosa
No delicioso ensaio “A Poética do Espaço”, o saudoso poeta francês Gaston Bachelard, ao analisar o fenômeno psicológico estrutural do apego à casa, afirmava: “(...) a casa é nosso canto no mundo. Ela é, como se diz amiúde, o nosso primeiro universo. É um verdadeiro cosmos”.
Tal analogia, querido leitor, serviria perfeitamente para ilustrar a real dimensão de um dos espaços públicos mais entusiasmantes de que se tem notícia: o Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura (Casa das Rosas), em São Paulo.
Frequentador assíduo desde sua inauguração, perdi a conta das inúmeras situações já vivenciadas por mim naquele recanto: lá, frequentei oficinas de teoria do poema, assisti a exposições, espetáculos, conheci escritores célebres e diletantes, participei de saraus madrugada adentro, emprestei livros da biblioteca (admite-se o empréstimo para “forasteiros”), fiz farra ao encontrar colegas do Alto Tietê, integrei a “tropa” de artistas mogianos regida pelo grupo Entremeio Literário que, em 2008, lançou lá o livro “Poesia e Arte Mogiana” (ainda estão na lembrança nosso sarau, a música de Mateus Sartori e a apresentação de Fernanda Moretti que, à noite, entre as roseiras do jardim da Casa, deslumbrou o público com sua performance – que orgulho de todos!), divulguei meu livro digital de poemas, encontrei-me com minha esposa, Raquel, enquanto ainda namorávamos, gastei horas nas confortáveis poltronas do andar superior a folhear livros...
Portanto, não posso pensar neste ambiente de forma imparcial. Para mim é um exemplo (e não estou aqui reivindicando “sala” igual em nossa querida cidade, pois acredito que a formação dos artistas e do público anteceda a ânsia do espaço – do contrário, será somente mais um “aparelho” repleto de moscas e egos). A Casa das Rosas é parte da minha existência dedicada à poesia. Vale!
Tudo isso, no entanto, não vivenciou o desavisado senhor Luis Dolhnikoff, que, num artigo tendencioso, publicado num site qualquer da internet, desqualificou e minimizou as ações da Casa das Rosas, utilizando, para isso, um nojento arcabouço teórico oriundo da lógica meritocrática e fria dos gestores clássicos, desprezando, assim, as múltiplas possibilidades da atividade artística humana e, sobretudo, dando mostras claras de sua curta visão. Ainda bem não ser levado a sério!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Casa e Universo. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 11 de Março de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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