quarta-feira, 20 de junho de 2012

Daquilo que não se diz

Há aquela espécie de obra literária, querido leitor, da qual não nos desvencilhamos. Então, perseguir edições variadas, portadoras de diferentes formatos, fortunas críticas, notas, apêndices, curiosidades, acaba se transformando num divertido hábito, beirando, em alguns casos, a própria obsessão. Coisa de quem, por efeito de algum caso incidente, aprendeu a “comer” livros.
Entre os vãos de minhas prateleiras, repousam algumas evidências desta prática. Os Lusíadas (1572), a sublime epopeia do escritor português Luís Vaz de Camões (1524?-1580), por exemplo, é um título multiplicado entre meus guardados.
Encontram-se perfiladas: a edição portuguesa em papel bíblia das Obras de Luís de Camões, da Lello & Irmão – editores (com as mais notáveis variantes); a completa e didática edição, organizada pelo professor português Emanuel Paulo Ramos e impressa pela Porto Editora (acompanhada de anotações, fotografias, imagens e notas complementares); a elucidativa “A Chave dos Lusíadas”, do mestre José Agostinho, publicada pela livraria Figueirinhas (acompanhada de notas e paráfrase explicativa); a monumental edição lançada pela editora LEP e organizada pelo instituto de estudos portugueses da Universidade de São Paulo (com ilustrações de Begas, Liezen-Mayer, Kostka e Ludwig Burger).
Mas, a edição que destaco neste humilde rabisco é uma singela reprodução fac-similar, publicada, sem mais informações, pela Takano Editora Gráfica como parte integrante de “A Revista”.
O molde do livro fora a primeira edição do bibliófilo José Midlin. A bem acabada publicação não representa nenhuma novidade para os conhecedores da impressão do século XVI. A curiosidade maior está perdida entre seus Cantos.
Os responsáveis pela referida versão publicaram também as páginas do Jornal “O Estado de São Paulo” que sofreram intervenções da ditadura militar brasileira – na época, o periódico decidiu que toda matéria “censurada” seria substituída por um trecho da obra épica camoniana. Em seguida, apresentam a versão integral do texto “mutilado” (como o texto “A epidemia do silêncio”, de 26-07-1974, onde o articulista Clovis Rossi denuncia o ocultamento de um surto de meningite). Vale!
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Ainda hoje, em Suzano, ocorre a louvável “Feira Internacional do Livro”. Espero que esta iniciativa vitoriosa, inédita e inesquecível se transforme em tradição. Congratulações aos responsáveis.

MIRANDA, Rafael Puertas de. Daquilo que não se diz. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 22 de Abril de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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