Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou."
(Fernando Pessoa )
Indubitavelmente duvidoso,
o bicho azul, sem norte, nem s(o)ul,
anda solto,
alheio a segredo e o que
quer que o valha em resoluta
aspiração de ser como si.
O bicho azul não é livro, não é livre.
Mesmo social de intensas bocas secas,
o bicho azul não tem rabo, ou pele,
e dispensa apresentação,
dispensa o sussurro ao pé do ouvido,
dispensa um abraço.
Fingindo rede, o bicho azul afugenta repouso.
Vício nosso rosto,
algoritmo insosso.
algoritmo insosso.
O bicho azul me leva em coleira,
o bicho azul me bota coragem,
o bicho azul me azucrina,
o bicho azul, contrariando a inabalável incognoscibilidade
dos códigos sinistros,
ruge,
late,
pia;
o bicho azul mente bem coisas lindas para me ninar
e eu acredito,
e a minha tristeza não passa
e o céu permanece cinza.
Tudo parece herdar um pouco da cor do bicho azul.
Nele, as pessoas são famosas,
bombas pulverizam criancinhas indefesas,
cabeças arejadas distribuem flores,
conservadores conservam suas conservas,
conservadores conservam suas conservas,
fetos mortos repousam em caixas de sapato,
cartazes embotam de sangue,
gases lacrimejam a paulista,
gases lacrimejam a paulista,
poetas distraem as horas,
balas encontram corpos santificados
e
odiosos, das mais diversas espécies e siglas,
desfilam em carros alegóricos dourados.
odiosos, das mais diversas espécies e siglas,
desfilam em carros alegóricos dourados.
E assim,
teimando aumentado fim,
o bicho azul do Sr. Zuck, quem diria,
rosnando nossa contradição,
teimando aumentado fim,
o bicho azul do Sr. Zuck, quem diria,
rosnando nossa contradição,
exibe seus dentes afiados,
no olho do furacão.
no olho do furacão.
MIRANDA, Rafael Puertas de. O bicho azul do Sr. Zuck. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 26 de Maio de 2013. Caderno Variedades, p. 07.