domingo, 8 de setembro de 2013

Do primeiro romance nacional I

 
          Ainda há pouco, numa destas conversas literárias empolgadas que acabam resfolegando sobre o desfiladeiro teimoso das horas, lembro-me bem de citar o pitoresco artigo: Teixeira e Sousa: “O filho do Pescador” e “As Fatalidades de Dous Jovens”, do ilustríssimo e saudoso crítico literário, o senhor Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989).
          O Artigo mencionado pode ser encontrado numa republicação de 1977, pelas Edições Melhoramentos, do romance romântico “O filho do pescador”, de Teixeira e Sousa (1812-1861), lançado originalmente no ano de 1943 e, por isso, considerado o primeiro “romance” brasileiro.
          Buarque, no seu texto, apresenta de forma didática a evolução da polêmica em torno de qual narrativa de nossa história literária nacional poderia ter inaugurado a prática romanesca. Explica que, durante muito tempo, Teixeira e Souza fora considerado o pai do romance em nossas plagas. Críticos da envergadura de um Sílvio Romero (“tacitamente”), de um José Veríssimo e Ronald de Carvalho (“de maneira expressa”), sempre validaram a referida primazia. O Sr. Afrânio Peixoto atribuía a Nuno Marques Pereira, com o seu “O Peregrino da América” o direito de precedência; tese que Veríssimo esculachava, haja vista que a referida obra não poderia ser identificada com o gênero Romance (“obra de moral e edificação religiosa”).
          Narrativa que por ventura poderia destituir Teixeira seria “As Duas Órfãs”, publicada em 1841 e batizada pelo próprio autor (Joaquim Norberto) como romance. A narrativa, no entanto, não excede quarenta páginas, sendo, portanto, confortavelmente classificada pela crítica como uma Novela.
          Tentativas anteriores havia — de Pereira da Silva (Jerônimo Corte Real, 1839) e de Varnhagen (Crônica do Descobrimento do Brasil, 1840) — as quais tampouco se identificam com o caráter ficcional da narrativa romanesca.
          Ainda, Buarque relata que, em 1938, o português Ernesto Enes, num, ensaio atestara a existência do romance brasileiro em meados do século XVIII, quando saíram as “Máximas de Virtude e Formosura”, de autoria da paulista, radicada em Portugal, Teresa Margarida da Silva e Orta. A obra, segundo Buarque, não reflete nosso meio. A distinta senhora, então, deve ser observada como autora portuguesa. “(...) O mestiço de Cabo Frio”, vaticina, “é que dá começo à história do nosso romance — do romance brasileiro, situado no Brasil”. (Continua)
 
MIRANDA, Rafael Puertas de. Do primeiro romance nacional I. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 21 de Julho de 2013. Caderno Variedades, p. 07.

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