domingo, 18 de novembro de 2012

Jabuti casca grossa


No ano de 1959, a Câmara Brasileira do Livro, fundada em 1946, lançava o prêmio literário “Jabuti”, que neste ano chegou a sua 54ª edição. O concurso, com o passar do tempo, devido às transformações de nosso mercado editorial e ao surgimento de novas safras de escritores, acabou se desdobrando em diversas modalidades do fazer literário e da arte do livro e consagrou-se como uma das mais representativas honrarias da plaga tupiniquim. 
De uns tempos para cá, no entanto, a disputa tem causado alvoroço no mundo literário. Em 2010, a Ed. Record anunciou que, em virtude da incoerente nomeação do romance “Leite Derramado” (Ed. Companhia das Letras-SP), de Chico Buarque como o “Livro do Ano”, não mais participaria do evento. 
Acontece que, na mesma edição, Chico havia sido derrotado na categoria “romance” pela bem construída e instigante obra “Se eu fechar os olhos agora”, de Edney Silvestre, publicada pelo grupo editorial carioca (este fenômeno já ocorrera em edições anteriores). 
A injustiça ganhou forte repercussão na Internet e desembocou no movimento/petição: “Chico, devolve o Jabuti!”. Jacaré devolveu o Jabuti? Não? Nem eu. Prevaleceu o “clichê derramado”. 
Os organizadores, a fim de acalmarem os ânimos dos não dissidentes, resolveram então alterar as regras do certame, prometendo mais justeza nas edições futuras. Agora, dois anos depois do rebuliço Chico versus Silvestre, outro entrevero desponta no horizonte, reflexo direto das alterações do famigerado regulamento. 
Na categoria romance, dez obras foram escolhidas para a fase final. Entre elas, a quelônica “Infâmia” (Ed. Alfaguara/Objetiva), da colar-de-bola nível máster Ana Maria Machado, hoje “presidenta” da Academia Brasileira de Letras. 
Embora tenha recebido bons conceitos na primeira etapa, “Infâmia” levou, de um criterioso jurado identificado como “C”, a incrível nota 0,17 (de 0 a 10) na etapa final (há boatos de que “C” seja o atento e demolidor crítico Rodrigo Gurgel). O conceito petrificou a obra na sexta colocação, mas os egos e a editora queriam mais. O episódio tem servido de pretexto para outras editoras justificarem seus choramingos. Quem levou o prêmio, afinal, foi o estreante escritor maringaense Oscar Nakasato que, com a obra “Nihonjin” (Ed. Benvirá), retrata as decepções e transformações vivenciadas pelo imigrante japonês Hideo Inabata (a história é narrada pelo neto de Hideo). Vale mesmo!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Jabuti casca grossaJornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 28 de Novembro de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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