domingo, 22 de julho de 2012

A troca e "O Barão"


Definitivamente, querido leitor, uma das atividades humanas mais prazerosas, praticada por teimosos entusiastas e admiradores do fazer artístico em suas mais diversas ramificações e modalidades (ou "culturalistas", como diria minha mestra), seja a entusiasmante "troca de referências".
Hoje, diversos são os multissemióticos meios (redes sociais, app´s, etc) que, além de competentemente promoverem a banalização da vida cotidiana por intermédio da construção de uma acolhedora hiper-realidade, promotora da indústria cultural de massa e responsável pela entronização da sanha pelo consumismo louco; talvez sejam capazes de ampliar as possibilidades deste tipo de experiência. No entanto, desconheço mecanismo mais significativo do que uma boa e simples conversa (olhos nos olhos), ao embalo do precário tempo que nos resta entre os espaços das horas alheias.
Assim, conheci diversas obras, indiquei outras tantas, (re)descobri autores, resgatei textos desconhecidos, revi certas posturas críticas enraizadas na minha formação, cresci. Amigos, se soubessem da minha imensa gratidão! Quis o acaso que não fossem raros os episódios desta natureza em minha vida. Como é vasto o "repertório culturalista" de nossa cidade (patrimônio humano!).
Pois então. Numa destes diálogos, um amigo me recomendou a Novela "O Barão" (1942), do escritor português Antônio José Branquinho da Fonseca (1905-1974). Alguns "Contos" do autor (como o magnífico "As mãos frias"), já haviam desfilado diante de meus olhos e seu nome decerto figurara em alguma "lousa perdida" sobre a Revista Presença. Mas, esta incrível "Novela", que, de forma simplória, é um gênero narrativo em prosa intermediário, escapara-me.
No texto, um curioso narrador personagem, inspetor de escolas de instrução primária, que viaja constantemente para dar cabo de suas funções, reconstitui os eventos relacionados a sua curta estadia numa cidade interiorana, quando, a convite de um temido e decadente Barão, hospeda-se em seu suntuoso solar. O nobre, sanhoso do contato com a civilização, envolvendo o visitante com um monólogo sôfrego, arrasta-o para uma etílica jornada, madrugada adentro, onde respostas ocultas se embrenham. 
A narrativa, sem experimentalismos, é carregada de ambiguidades. No plano simbólico, arquétipos interagem a fim de contrastar o passado com o presente; ruínas. 
Grande experiência literária! Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. A troca e O Barão. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 24 de  Junho de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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