domingo, 22 de julho de 2012

Da Genética do Texto


Em 1972, o belga Philipe Leon Marie Ghislain Willemart concluía sua graduação em Letras (Língua e Literatura Francesa) na Universidade de São Paulo. 
Hoje, pós-doutorado pela mesma instituição, é considerado um dos mais respeitáveis estudiosos da literatura Proustiana no Brasil e também o introdutor de uma nova linha de investigação literária denominada "Crítica Genética", que, afim de consolidar uma teoria da escritura, é direcionada à análise minuciosa dos processos de criação dos grandes escritores, mapeando suas peculiaridades, sua dinâmica.
Willemart, que coordena o Laboratório do Manuscrito Literário (LML), o Núcleo de Apoio à Pesquisa em Crítica Genética (NAPCG) e o Centro de Estudos Proustianos, fora responsável também pelo projeto temático FAPESP "BRÉPOLS brasileiro" (2007-2011) que avaliou/investigou determinados cadernos manuscritos "caóticos" do espólio do escritor francês Marcel Proust (1871-1922); a pesquisa contou com a participação de estudiosos franceses, japoneses e brasileiros.
O resultado do referido trabalho conjunto, uma edição crítica de todo o material com transcrição integral, fac-símile de cada página e notas explicativas a ser publicado pela prestigiada editora belga BRÉPOLS, ainda não tem data de lançamento no Brasil.
Entre os destaques aflorados pelo projeto, encontra-se a brilhante tese defendida pela professora da UNESP (Assis) Carla Cavalcanti e Silva, que localizou o destino de quarenta páginas arrancadas pelo escritor do caderno 53, que constitui parte considerável da série "Em busca do tempo perdido", obra romanesca escrita entre 1908-22 e publicada entre 1913-27, em sete volumes.
Marcel Proust, para o terror daqueles que eram responsáveis pela transcrição de seus manuscritos, utilizava estes cadernos - miseau net - como rascunhos, praticando uma escrita não linear e, também, por vezes, arrancava páginas a fim de alocar trechos escritos em outros cadernos, em "alturas" diferentes" do texto final.
Esta investigação lança novas luzes à interpretação da obra (pode, inclusive, a relevante pesquisa, contestar o caráter autobiográfico da obra máxima de Proust, tradicionalmente classificada como um "roman à cléf", quando observa que a escolha da narrativa em primeira pessoa é tardia - o próprio escritor questionava a leitura tradicional) e amplia o prestígio brasileiro neste sedutor novo campo de pesquisa. 
Vale!

MIRANDA, Rafael Puertas de. Da Genética do Texto. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 13 de Maio de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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