domingo, 22 de julho de 2012

Da Partícula I


Na última quarta-feira, enquanto a barulhenta torcida "Didelphis sp" (Gambá) comemorava o título inédito e enciumados esfarelavam pés de mesas com os próprios dentes, alguns curiosos ainda digeriam, embasbacados, o surpreendente comunicado oficial dos responsáveis pelo Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN), que, num seminário em Genebra, anunciara, na tarde daquele mesmo agitado dia, a verificação segura da descoberta de uma partícula possuidora das características previstas, na década de 70, pela difundida teoria do físico britânico Peter Higgs: estava descoberto o célebre "Bóson de Higgs". 
A façanha experimental, considerada a maior descoberta científica dos últimos cinquenta anos e que só fora possível graças ao aparato tecnológico conhecido pela sigla LHC (Grande Colisor de Hádrons - enorme acelerador de partículas construído sob a fronteira da Suíça e da França - espécie de túnel anelar com 27 km de extensão capaz de embalar prótons, quase à velocidade da luz, para que os mesmos se colidam e, como resultado dessa colisão, desdobrem-se em outras efêmeras partículas não conhecidas), em poucas horas, desencadeou discussões acaloradas na Internet. 
Acontece que a partícula, elemento fundamental para o entendimento da composição e do funcionamento da matéria visível no Universo (imagine, querido leitor, um grosso caldo de afogado; assim é o campo gerado pelo B. de H., com o qual as outras partículas interagem e que, por isso, determina - dita - a massa das mesmas), dada sua importância para compreensão científica das coisas como conhecemos (eu, você, uma abóbora, uma estrela, uma alface), acabou se embrenhando na cultura popular por intermédio de uma interpretação equivocada do apelido dado pelo físico americano Leon Lederman: "a partícula Deus".
Duas explicações divergentes para a origem do apelido foram divulgadas pela mídia impressa no dia seguinte: 
- a primeira afirma que Lederman, ao publicar o livro intitulado "The God Particle", tenha feito uma analogia à história bíblica da Torre de Babel: "Deus, furioso, faz com que todos falem línguas diferentes" - "B.H. faz partículas possuírem massas diferentes".
- a segunda afirma que o mesmo livro citado acima se chamaria "Goddamn Particle" (Maldita Partícula), porque ela nunca era detectada. Mas seu editor o convenceu a alterar o título para "God Particle".
(Continua - Não perca: Da Partícula II: e a Literatura?)

MIRANDA, Rafael Puertas de. Da Partícula I. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 08 de Julho de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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