domingo, 22 de julho de 2012

O Mestre da "comborçaria"

Anônimo. Machado de Assis, c. 1880 / Acervo Academia Brasileira de Letras.
No ano de 1999, depois que o escritor carioca Carlos Heitor Cony começou a divulgar o resultado de suas pesquisas sobre crônicas fofoqueiras do final do século XIX, aventou-se a possibilidade de que Mário Cochrane de Alencar não seria filho do romancista José de Alencar, pai de "Iracema" (1865). 

Mário, talentoso escritor e epilético, na verdade, seria fruto de uma relação extraconjugal entre a mulher de Alencar, Georgiana Cochrane, e o jovem escritor Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Na época, sugeriu-se uma nova chave para a interpretação do romance "Dom Casmurro" (1899), escrito por Machado na maturidade, enxergando-o como uma espécie de veículo de expiação, biografia ficcionalizada.
Se "corneou" ou não o amigo (e acredite, querido leitor, há registro de que Machado tenha traído até a própria esposa), o futuro nos dirá. Certo é, no entanto, que nenhum outro escritor de nossas letras esmiuçou com tanta competência e profundidade a "comborçaria", desnudando a dinâmica das relações burguesas, em fins do século XIX. Vale!

À guisa de breve roteiro, apresento abaixo alguns dos imperdíveis atos de traição machadianos:
- O triângulo amoroso entre Rita, Camilo e Vilela apresentado no conto "A Cartomante". Na história, os amantes (Rita e Camilo), depois de descobertos, são assassinados por Vilela.

- A admissão resignada da traição, no conto "A Missa do Galo". Conceição é casada com Meneses e este a trai semanalmente (diz que vai ao teatro - "eufemismo em ação"), mas não a engana.
- No conto "Último Capítulo", Matias, depois de ficar viúvo, descobre que a inexpressiva e bondosa mulher, D. Rufina, o traia com seu amigo Gonçalves. Matias decide, então, tirar a própria vida. 

- Maria Olímpia, a protagonista do conto "A Senhora do Galvão", prefere descartar as evidências, negando o óbvio envolvimento de seu marido, o senhor Galvão, com a viúva "Ipiranga", Madame Tavares. Mas, por inveja (a outra compra antes uma joia que Olímpia paquerava há muito tempo), decide enfrentá-la. É salvo o casamento.
- No romance "Memórias Póstumas de Brás Cubas", Lobo Neves desconfia, mas não descobre a traição de Virgília. O ilustre comborço defunto, Brás Cubas, engravida a amante, porém esta perde o filho. O caso deixa marcas profundas.
- Em "Dom Casmurro", Capitu com seu olhos de "Caipora" engana Bento Santiago, traindo-o com o próprio amigo, Escobar.

MIRANDA, Rafael Puertas de. O Mestre da "comborçaria". Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes, 03 de Junho de 2012. Caderno Variedades, p. 07.

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