Uma breve
consulta e contraste dos dicionários que eventualmente se tem à mão podem
confirmar as corriqueiras discrepâncias conceituais entre as engajadas explicações
dos verbetes “POEMA” e “POESIA”, respectivamente.
Tais desencontros
são facilmente justificados, se atentarmos para o percurso desta difícil tarefa
teórica que já se desdobrou em volumosa bibliografia responsável pelo
estabelecimento de uma tangível e inegável diferença entre termos tão
“assanhados” – no passado, inclusive, indissociáveis.
Aristóteles
(séc. IV a.C.) já empregava aparentemente os termos (poiema/poiesis) com o mesmo sentido. Também a tradição da língua
portuguesa registra a mesma correspondência semântica, excetuando-se as grandes
narrativas em versos (Epopeias - agora
sem acento graças à reforma ortográfica!), classificados costumeiramente como poemas épicos, poemas heroicos, etc. No século XIX, alguns dicionários da Língua
Portuguesa acrescentavam à definição da palavra poesia a conotação de composição poética de pouca extensão (poema
curto).
Estas oscilações
semânticas (nos sentidos) e a falta de discussão a respeito dos significados
“maduros” dos dois vocábulos têm certamente contribuído com os constantes
deslizes que habitam os livros de poetas diversos, diletantes ou não (abundam
as “minhas poesias” ou simplesmente “poesias”); perpetuando, desta forma, uma
noção não adequada aos depurados parâmetros teóricos, que tratam o poema como
um objeto empírico, uma realidade concreta, receptáculo material da poesia que,
ao contrário, é apresentada como essência mestra, espécie de linguagem particular esvaziada de
existência concreta que se faz presente em
outras formas de expressão (há poesia numa boa fotografia).
Toda pessoa que
escreve, portanto, é capaz de “parir” um poema. Por isso, o sono entorpece os
sentidos, quando somos obrigados a ler um típico e abominável poema de
circunstância – “Poema do dia do Índio”,
“Poema do dia das Mães” – ou um poema fabricado com rimas tipo “lasanha congelada”
– estavam, apaixonavam, brilhavam, etc
– ou demais aberrações que povoam prateleiras empoeiradas. Entretanto, a
poesia, esfomeada como uma rosa, é resultado de outra aprendizagem e precariamente
inoculada em tempos tão prenhes de ignorância e embrutecimento.
***
Dedico este singelo
artigo à memória do professor e amigo Erivelto Martins dos Santos. A “História”
não será mais a mesma.
MIRANDA, Rafael Puertas de. poemático. Jornal Mogi News, Mogi das Cruzes,
07 de Agosto de 2011 e republicado em 05 de Fevereiro de 2012. Caderno Variedades, p. 03.
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