Os Caçadores na Neve, 1565. |
Os três homens
descendo a colina invernal
em marrom, com
longas varas e um bando de cães
nos calcanhares,
através do arranjo das árvores,
além das figuras
ao redor da palha em chamas,
retornando
gelados e silenciosos a sua cidade,
voltando à neve
dormente, à pista
animada pelas
crianças, aos homens mais velhos,
aos companheiros
antigos que jamais poderão alcançar,
à luz azul, aos
homens com escadas, ao lado da igreja;
ao trenó e à
sombra na rua crepuscular,
não têm
consciência de que, no tempo em pó
do porvir, o
resíduo maligno da história
distendida;
serão vistos no alto
dessa mesma
colina: quando toda a sua companhia
estiver
irrecuperavelmente perdida;
estes mesmos
três homens em marrom,
testemunhados
por pássaros, olharão a paisagem e dirão,
por sua
configuração com as árvores,
a pequena ponte,
as casas vermelhas e a fogueira:
Que lugar, que
hora, que ocasião matinal
os enviou ao
bosque, uma matilha de rafeiros
nos calcanhares
e as longas varas sobre os ombros,
para retornarem
como agora os vemos,
afundados até os
tornozelos na neve, colina invernal abaixo,
descendo,
enquanto três aves espiam e a quarta voa.
Sir John Betjeman
(Tradução:
Rafael Puertas de Miranda – Inverno, 2011.)
***
O interessante
poema acima fora escrito por uma das mais populares vozes poéticas inglesas do
século XX: Sir John Betjeman. O texto, marcado por uma firme atmosfera sombria,
possui estreita relação com os materiais extraídos oportunamente da pintura “Os
Caçadores na Neve” (1565), do artista brabante Pieter Bruegel, o Velho (1525-1569).
Mas, o querido
leitor não se engane: este escrito não é um mero equivalente verbal do quadro,
tampouco uma releitura, uma simples interpretação.
Um olhar atento
revelará a pensada associação entre o texto poético e a densa atmosfera
política de seu contexto de produção (Betjeman estava em Nova Iorque, quando o
escreveu, entre 1938 e 1939 – na Europa, nazistas latiam!).
Trata-se,
portanto, de um inteligente poema de guerra: caçadores com suas varas (e não
lanças) que se preparam para um novo conflito, para o desterro, para o
retorno... Este, definitivamente, não é o tema de Bruegel.
Betjeman utiliza
a nebulosa imagem de um mundo tranquilo, recusando o que é preciso ser dito a
respeito de um mundo violento, à beira do colapso, do horror. Dizer tudo, não
dizendo nada. Estas intenções! Vale!
MIRANDA, Rafael Puertas de. Das "intenções" do não dizer. Jornal
Mogi News, Mogi das Cruzes, 02 de Outubro de 2011. Caderno Variedades, p.
03.
LINK do Google Art Project:
http://www.googleartproject.com/pt-br/collection/kunsthistorisches-museum-vienna-museum-of-fine-arts/artwork/hunters-in-the-snow-winter-pieter-bruegel-the-elder/676859/#
LINK do Google Art Project:
http://www.googleartproject.com/pt-br/collection/kunsthistorisches-museum-vienna-museum-of-fine-arts/artwork/hunters-in-the-snow-winter-pieter-bruegel-the-elder/676859/#
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